segunda-feira, 24 de outubro de 2011

EU EM MANDACARU


Minha entrada em Mandacaru se deu da seguinte forma.


Eu havia participado de todas as novelas da Rede manchete,




menos “Dona Beija e Pantanal”. Fazia figuração. Levava a coisa tão a sério que sempre saia machucado das gravações. Mas foi em “Tocaia Grande” que eles (pessoal da produção) começou a prestar atenção em mim, pois eu estava em todas, uma novela seguida da outra. De certa forma fiquei marcado. Então mesmo sem ter fala eu fui chamado para integrar o elenco de apoio, na novela Mandacaru, mesmo sendo figurante da Rede Manchete que ficava no bairro da Glória, com isso ganhei algumas pontas (pequenas falas) mas de certa relevância. De lá partiam sempre três ônibus com destino a Maricá, onde aconteciam as gravações.

Então eu não vinha mais no ônibus da figuração, e sim junto com o elenco da novela.

Por ser muito tagarela fui logo fazendo amizades e uma delas foi com Victor Wagner, este raramente ia de ônibus, mas sempre que isso acontecia, lá estava eu conversando com ele. Logo veio “Chica da Silva”, e eu gravei esporadicamente só os primeiros capítulos e depois alguns no meio da novela. Tive uns problemas pessoais e não pude continuar.

Eu estava gravando se não me engano um Globo de ouro “na Globo”, quando surgiram dois caras me procurando. Saí de onde eu estava na platéia e fui até eles. (Eu vivia de figuração pois todos me chamavam para gravar) Eram da Rede Manchete, me queriam numa cena. Como eu pertencia à mesma agência fui liberado. Era noite e chovia muito, me levaram para Maricá. Lá chegando encontrei Sandra, foi ela quem me indicou pra fazer a cena. Era a novela Mandacaru, minha cena seria esta.

Enquanto soldado do Sargento eu tinha um pangaré


Eu galopava em um cavalo, dava a volta na cidade e parava em frente à delegacia, ali o soldado André (Carlos Thiré) estaria saindo da mesma, eu desçia do cavalo apressado e lhe entregava uma mensagem da capital. Mas cometi uma gafe ai. Como eu não tinha ainda gravado com ele, eu não sabia sua patente, não me informaram isso, então quando lhe entreguei a carta bati continência pra ele. Imagina soldado batendo continência pra soldado (risos). Mas alguém gritou que valeu fiquei quieto. Tudo era muito rápido.



Depois de gravar essa cena não gravei mais. Eu tinha uma quantidade enorme de gravações, e estava tendo problemas pra receber, era muito dinheiro na época, então decidi parar. Briguei com a agência, e busquei meus direitos. Cheguei a reclamar na Manchete no setor responsável, pela falta de pagamento da agência. Com isso fiquei marcado e ninguém me chamava pois tinham medo de eu criar problemas, e eu criava sim se meus direitos não fossem respeitados. Mas sempre nutri vontade de continuar gravando a novela, mas ninguém chamava.

Foi quando numa tarde meu bip tocou. Era uma das pessoas responsáveis pela continuidade, seu nome, Sandra. (sou meio ruim de guardar nomes, mas desse me lembro). Queriam minha presença no set para fazer uma cena, uma continuidade atrasada. Podem não acreditar eu já fiz cenas onde o duble que chamaram pra fazer a cena amarelou. (Se é que era duble) Fato é que eu me lançava de cabeça nas cenas sem medo. Sempre saía ralado de alguma cena de ação.

Enfrentando Cangaceiros


Como não me localizaram pela agência, alguém que tinha meu bip passou para a produção. Pois eu sempre deixava meu contato com alguém. (Acho que até os cachorros do set tinham meu bip.) Fui direto para a Rede Manchete de televisão no bairro da Glória. Eram sete da manhã e o ônibus sairia as oito.



Conversei com o responsável pelo elenco de apoio e falei dos meus problemas com agência e quem é que iria me pagar pela gravação se eu não estava indo por nenhuma agência. Eu não tinha DRT,(registro de ator), sempre gostei de fazer as cenas, de estar no meio, mas tinha consciência de que não estava preparado para algo grande, ou que legalmente eu não tinha nada em especifico. Mas ele me disse que eu tinha algo que muitos ali não tinham, que era à vontade de fazer, de mostrar resultado, e isso fazia a diferença. Eu não era um figurante, eu era o figurante.



Já cortei dedo, machuquei joelho, cai de cavalo, fiz cenas de explosões, ralei as costas em espinhos quando fui arrastado por cavalos, enfim. Ele me disse que no set resolveria meu problema.



Chegando em Maricá, a fiscal da agência pela qual gravava veio até mim, e fez interrogatório, do tipo: “Tá fazendo o que aqui?” Falei que estava ali pra gravar. E ela rindo disse “duvido que isso aconteça”. Lembro-me que ela passou uma mensagem para alguém e um tempo depois essa pessoa já estava no set de gravação. Fui barrado por essa pessoa de avançar em determinados setores do set.

Até que um cara da produção veio até minha pessoa e disse que Jacques Lagoa (diretor da novela) estava me chamando, queria passar instruções da cena pra mim. Eu só acenei dando um tchau pra elas e fui, acreditem de verdade, feliz da vida.

No set havia uma regra básica. Quem morresse em cena e o rosto fosse bem focado não voltava mais para gravar. E eu percebi que aquela minha cena seria então a última, pois eu seria focado.

Marcando a cena


De inicio fiquei triste, pois eu gostei de estar ali e não queria sair assim de cara. Ensaiamos minha cena varias vezes até eles acharem que valeu. Eu seria ferido de morte na caatinga. Voltamos para o set e ficamos ali na praça da cidade cenográfica de Jatobá. Jacques Lagoa preparava uma cena ali mesmo na praça enquanto o ator Murilo Rosa não chegava pra fazer a cena da caatinga.

Praça de Jatobá


Naquele momento eu era soldado do Sargento.

ESTUDIO - EU e CLAUDIONEY PENIDO - Sargento Casimiro


Pois existiam dois grupos de soldados. O do sargento e era sempre do grupo do Sargento que morria, nunca do Tenente Aquiles, ficavam feridos, mas nunca morriam.

Soldados do Sargento

Porta da Delegacia


Eu não fazia parte desse grupo, mas como fui chamado para fazer uma cena onde um soldado morreria lá fui eu para o grupo deles.

Os do Tenente Aquiles (Murilo Rosa). Haviam mais de vinte soldados que iriam ficar feridos, mas eles não sabiam, pensavam que iriam morrer. Somente eu e Paulo e mais dois que foram ao set onde a cena seria rodada é que sabia. Não sei como mas o boato se espalhou de que teria morte na cena de soldados. Alguns já pela experiência em set, por já gravarem a muito tempo perceberam logo o tipo de movimentação, então acredito que tudo começou daí. E assim muitos se esconderam. Pois a coisa funcionava assim: Os mais experientes, os mais cascudos, esses se escondiam, pois a produção pegava quem tivesse na reta, não tinha uma marcação certa de quem morreria, afinal eram apenas figurantes e para eles não importava se tinha muito tempo ou não. Claro que havia uns que por conhecer a todos de outras gravações esses seriam poupados por camaradagem, e assim sendo os novatos que ficavam ali na praça de bobeira esses eram os alvos.

Quando os que iriam morrer já foram escolhidos, daí sim aos poucos os restantes iam aparecendo.



E nesse dia foi determinado que a maioria dos soldados do sargento iriam morrer, e eu era um deles. Depois do almoço eu fiquei ali na praça esperando meu momento de gravar. Me juntei a dois amigos de cena (Paulo e André),

Jacques Lagoa estava nervoso, pois um ator ainda não tinha aparecido no set,(Murilo Rosa). Então ele pra adiantar as cenas resolveu chamar os soldados e gravar as cenas de morte. Mas cadê os 'SOLDADOS". Foi uma correria só. Fiscais de agência foram chamados, xingados, enfim... Houve uma correria no set por parte dos fiscais e eu ali sentado de boa conversando com a pessoa que me maquiava, uma morena (pena que não me lembro do nome, mas a foto tá ai pra mostrar)



Nesse dia não houve a tal gravação, não porque sumiram os soldados, mas porque o ator não foi. Então Jacques Lagoa decidiu o seguinte no set. Queria o nome de todos os soldados que permaneceram o tempo todo na praça, o que foi um total de quatro. Eu, André, Paulo e mais um outro.



O restante ele não queria ver nem sombra.

Então um cara da produção que conhecia a gente e que sabia da minha situação, pois eu estava ali sem agência, alguém tinha que ser responsável pelo meu pagamento. Eu não assinei uma folha como fazíamos na agência. Ele me disse para não me preocupar, pois eu receberia sim. Depois de um tempo, Sandra me chamou no setor de elenco de apoio, e lá me deu a notícia de que eu agora iria ser do elenco de apoio, mas que eu não ia ter créditos por isso, pois eu não tinha DRT, mas eu teria um valor fixo por mês e eu seria parte do processo de trabalho na trama da novela.



Então foi assim que entrei para Mandacaru.


Gravei inúmeras cenas.



Ganhei um cavalo decente


Algumas eu apareci de frente, contracenei em alguns momentos, dei muitos tiros. Mas nada disso importava ali pra mim. Pois o mais importante foi ver e ter meu trabalho reconhecido por pessoas que estavam por trás das câmeras. Era dos bastidores que eu gostava, do que acontecia por trás das câmeras, coisas que não pedem roteiro, coisas que vão seguindo um ritmo para que o que esta no roteiro aconteça.


Ferido mais uma vez.


Esperando o momento para gravar




Pessoas que foram importantes no set






Deixei de ser soldado do Sargento e passei a ser soldado do Tenente Aquiles, pois éramos fixos e não morríamos, ficávamos feridos, mas não de morte.





Neste dia fui gravar sabendo que o meu personagem iria morrer, mas no set teve uma reviravolta, pois os demais soldados quando souberam que haveria mortes alguns se esconderam, daí os que estavam a vista é que foram escolhidos, mas quando chegou aos ouvidos da produção tal fato isso irritou Jacques Lagoa, que inverteu a história. Quem estava no set não mais iria morrer e sim os que se esconderam. Claro que eles ficaram sabendo depois, já quando estavam no set.

foi uma dúvida só. Primeiro depois de todo o trabalho, descobriram que eu tinha uma continuidade não terminada de uma cena que tinha sido adiada.

Então decidiram que seria o personagem de Paulo Camacho que seria ferido

Nesse dia o personagem de Paulo morreu num outro front de gravação e o meu na cidade, quando Zebedeu invadiu a mesma.

Jacques Lagoa de camisa azul ao fundo. Esse foi o dia em que todos se esconderam.



Momento de descanso enquanto o set era preparado. Eu ao fundo com o chapéu do Tenente Aquiles (Murilo Rosa) e Hosana ao lado (André Mattos). Nesse dia eu fiquei preso numa continuidade.

O bom de tudo nessa época é que não havia estrela, todos estavam começando então era festa.

6 comentários:

Anônimo disse...

ONDE FICAVA A CIDADE CENOGRÁFICA DA MANCHETE?

Unknown disse...

Nossa que bacana, adorei seu blog, adoro a novela também

Guilherme Jaber disse...

Ficava em Maricá, mas hoje é um condomínio residencial.

Tom. disse...

Padrão eu achava muito gata a atriz que interpretou a cangaceira nenem linda essa mulher.

Unknown disse...

Olá Guilherme, gostei do seu blog, me fez recordar esse trabalho tão especial pra mim. Fiz o Chumbinho cangaceiro de Zebedeu. Espero que vc esteja bem, grande abraço! (Renato Oliveira)

Unknown disse...

Olá, Guilherme que bacana sua história de sucesso.
A cidade cenográfica ficava na estrada do cajueiros?
Gratidão.

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